🧩 É o fim da América?
- Alexandre Palazzo
- há 4 dias
- 32 min de leitura
Tarifas, isolacionismo e a ascenção de um novo super-poder.
Resumo
As tarifas são um problema grave, que somados a outros problemas também graves da economia americana podem nos levar a uma recessão ou algo mais sério.
Os indicadores e pesquisas levantados nesse artigo convergem para uma crise iniciando, mas não estou inclinado a acreditar em tudo o que dizem os profetas do Apocalipse.
O Bitcoin pode ter um papel muito interessante a realizar nesse momento, e se a bagunça realmente se tornar generalizada, a moeda poderá alçar voos maiores do que os já feitos.
Adaptar-se a um momento tempestuoso é sadio, mas nunca devemos abrir mão dos planos que fizemos quando tudo estava calmo. Siga a sua estratégia. Crises passam.
É muito difícil acertar topos e fundos, mas existem empresas que normalmente marcam topos e fundos dos ciclos de mercado. Conto nesse artigo o que andei comprando e vendendo para me proteger e aproveitar a próxima alta, quando ela vier.
Por Alexandre Palazzo, em 01/05/2025

Nesse artigo, vamos olhar cuidadosamente para economia dos EUA, a crise atual inciada pelas tarfias de importação mas com raízes muito mais profundas (o déficit primário monstruoso e o Estado cada vez mais inchado e comprometido com programas sociais). Vamos passar por autores e casas de análise que predizem uma das ou talvez a maior catástrofe desde que os EUA assumiram seu papel de liderança global. Segundo alguns, estaríamos diante do fim dessa liderança, do uso do dólar como moeda de referência e da ascenção de uma nova super-nação para este cargo. E vou deixar com vocês meus pensamentos a respeito, relacionando com a postura que adoto nos meus investimentos diante dessas previsões cataclísmicas e dos sinais reais que a “crise das tarifas” vem talhando no quadro econômico mundial.
Primeiro Estudo: Mike Maloney e o fim do dólar
Mike Maloney, em seu fantástico livro Guide to Investing in Gold and Silver (publicado originalmente em 2008 e atualizado posteriormente), apresenta uma análise histórica e econômica que defende a ideia de que o dólar americano e o império dos EUA estão em um estágio avançado de declínio, seguindo um padrão cíclico observado em civilizações passadas, como os impérios Persa, Grego, Romano e Britânico. Seus argumentos têm semelhanças com as ideias de Ray Dalio sobre uma mudança de Era, especialmente no que diz respeito à perda de confiança em moedas fiduciárias e ao papel do ouro e da prata como proteção contra crises. Eis as principais ideias expostas no livro (e numa coleção sensacional de vídeos no Youtube chamada The Hidden Secrets of Money):

História do Dinheiro e Ciclos Econômicos
Maloney traça a evolução do dinheiro ao longo de 5.000 anos, argumentando que civilizações prosperaram enquanto usavam ouro e prata como “dinheiro real” com lastro, mas declinaram quando adotaram moedas fiduciárias (sem lastro em metais preciosos). Exemplos incluem o colapso do padrão-ouro romano, a desvalorização da libra esterlina após o fim do Império Britânico, e a hiperinflação da Alemanha de Weimar.
Ele identifica um ciclo recorrente: criação de uma nação sólida e próspera, com um dinheiro que representa o trabalho de seus habitantes (e lastreada por essa prova de trabalho), passando expansão territorial via crédito e déficit, seguida pela inflação, que é a perda desse lastro mencionado, que resulta na queda de confiança na moeda e eventual colapso, com transferência de riqueza para quem detém ativos como ouro e prata (tanto nações quanto pessoas).
Fim do Lastro do Ouro e Declínio do Dólar
Maloney destaca o abandono do padrão-ouro pelos EUA em 1971, quando Nixon encerrou a convertibilidade do dólar em ouro (fim de Bretton Woods), como o ponto de partida para a desvalorização da moeda. Sem lastro, o dólar passou a ser baseado apenas na confiança e na capacidade dos EUA de imprimir dinheiro, o que ele chama de “fiat currency”, e de projetar seu poderio militar. Depois de Pearl Harbor, eu diria que a declaração de Nixon sobre esse de-peg com o ouro foi o “Segundo Dia que Viverá em Infâmia”, lembrando o discurso do Presidente Franklin Roosevelt falando sobre o ataque japonês em 1942.
Mike argumenta ainda que a expansão desenfreada do crédito (dívida pública dos EUA atingiu US$ 34 trilhões em 2024, ou 123% do PIB) e a impressão de dinheiro (quantitative easing pós-2008) corroeram o poder de compra do dólar. Por exemplo, desde 1971, o dólar perdeu mais de 80% de seu valor em termos reais, segundo índices de inflação ajustados. Isso que estes índices são manipulados!
Sinais de Fim de Ciclo para os EUA
Maloney aponta que os déficits comerciais crônicos (que superam US$ 1 trilhão desde 2023, segundo o U.S. Census Bureau) e a dependência do dólar como moeda de reserva global permitiram aos EUA viver além de seus meios, mas essa situação é insustentável. Ele sugere que outros países (como China e Rússia) estão se movendo para reduzir sua dependência do dólar e prevê que a confiança no dólar será abalada por crises econômicas. Desde a publicação do livro, tivemos a crise do Covid, temos uma recessão projetada para 2025 (como veremos no estudo da Apollo), inflação alta (que quase bateu em 10% na recuperação da pandemia), e políticas como as tarifas de Trump e o embargo da Rússia no sistema de transferências Swift, que podem alienar aliados e acelerar a desdolarização. Será que o Maloney tinha razão? Em suas mídias sociais ele vem apontando estes eventos recentes como provas de que o livro de 2008 estava certo. Eu, como leitor, sou obrigado a dar valor às previsões que estão batendo na realidade uma atrás da outra.
O ouro seria a moeda do futuro?
Maloney compara o atual estado dos EUA ao declínio do Império Britânico após a Segunda Guerra Mundial, quando a libra perdeu seu status de moeda de reserva devido a dívidas e guerras, sugerindo que os EUA estão em uma fase semelhante. Ele acredita que estamos no “olho do furacão” de uma crise financeira catastrófica, maior que a de 2008, que resetará o sistema monetário global. Prevê um colapso do dólar como moeda de reserva, desencadeado por uma combinação de inflação, recessão e perda de influência geopolítica. O argumento da tese é que esse colapso levará a uma corrida global por ouro e prata, com uma valorização massiva desses metais. Por exemplo, ele usa a razão ouro/Dow Jones, que caiu de 45:1 em 2000 para cerca de 9:1 em 2025 (com base em dados históricos), sugerindo que pode atingir níveis extremos (como 0,5:1, como em 1980), elevando o preço do ouro para milhares de dólares por onça.
Maloney posiciona ouro e prata como a “apólice de seguro” definitiva contra a desvalorização do dólar. Ele recomenda que investidores detenham entre 10-25% de seus portfólios em metais preciosos físicos, evitando ETFs ou papéis, devido ao risco de manipulação ou confisco estatal. Ele enfatiza que, historicamente, quem detém ouro e prata durante crises (como na Alemanha de Weimar ou no Zimbabwe) preserva ou multiplica sua riqueza, enquanto moedas fiduciárias perdem valor. A nova moeda global teria de ser lastreada em metais preciosos se quiser tomar o lugar do dólar, de acordo com o livro. Mas em seus vídeos, lá pelas tantas o autor descobre o Bitcoin, que o deixa bastante pensativo e animado a ponto de considerar que este seria mesmo o ouro digital e a moeda do futuro (falarei mais sobre o BTC adiante).
Minha opinião
Maloney acertou ao prever a crise de 2008 e a valorização do ouro (de US$ 720 para US$ 1.900 entre 2008-2011), mas suas projeções extremas (como ouro a US$ 7.000) dependem de um colapso total do dólar, o que exige choques mais severos do que os atuais (recessão de -2% e inflação de 5-6%). A resiliência do dólar (59% das reservas globais) e a liderança tecnológica/militar dos EUA sugerem que o declínio pode ser mais lento do que ele prevê. Seus argumentos são fortes para quem busca proteção contra inflação, mas podem ser vistos como alarmistas por subestimar a capacidade dos EUA de ajustar políticas (como acordos comerciais ou estímulos). E é preciso levar em consideração que Mike Maloney é um grande vendedor de ouro e prata, logo existe um viés pesado em favor dos metais como investimento. Eu tenho uma visão favorável ao que ele diz, tanto que venho acumulando ativos reais ao invés de caixa, mesmo em períodos de baixa no mercado. Mas não seria capaz de cravar que a hora do “corram pras montanhas!” seja agora. Aí, pra mim, é bater tambor pra vender livros, cursos e barras douradas. Ninguém sabe isso com certeza.
Segundo Estudo: Apollo e seus slides apocalípticos
Recentemente a Apollo Global Management (apollo.com) publicou um estudo sobre os efeitos das tarifas de importação de Trump, que seria o estopim de uma crise histórica para a economia americana nos moldes de 2008, 1929 e no recente lockdown de 2020.
Segundo a casa de research, as tarifas estão desencadeando demissões massivas em setores como transporte rodoviário e varejo, além de provocar uma queda nos volumes de fretes. Há também um risco elevado de estagflação (inflação combinada com estagnação econômica) devido à interrupção nas cadeias de suprimentos e aumento de custos. A análise da Apollo aponta que 41% das receitas das empresas do S&P 500 vêm do exterior, o que torna a economia americana vulnerável a retaliações e recessão global.
Aplicadas a mais de 180 países, as “Tarifas de Trump” podem levar a uma recessão global ao afetar as exportações mundiais, já que os EUA são o maior importador global. A interconexão da economia americana com o resto do mundo significa que uma recessão nos principais parceiros comerciais dos EUA pode devastar as exportações americanas, que totalizaram US$ 2,1 trilhões em bens e US$ 1,1 trilhão em serviços no último ano.
Estamos diante de uma crise gigante? Vamos conferir… aos slides do fim do mundo, gurizada! 🫣 Separei aqueles que considero serem os mais significativos e ilustrativos dentro do estudo e que nos permitem aprofundar a discussão sobre o que está acontecendo com a economia norte-americana. Aqui vão eles:

Slide 1: “Uma guerra comercial é um choque de estagflação”
Este slide apresenta quatro situações possíveis para a economia dos EUA em termos de inflação e crescimento, usando para isso as referências do S&P500 (índice das 505 maiores empresas de capital aberto nos EUA) e dos juros-base do FED, conhecidos carinhosamente como “rates”. São eles:
Stagflation (canto superior esquerdo): Inflação alta (acima de +2%) e PIB em queda (maior que -2%), com o S&P 500 em declínio e taxas de juros subindo.
Overheating (canto superior direito): Inflação alta (+2%) e PIB em crescimento (+2%), com o S&P 500 subindo e taxas de juros também subindo.
Recession (canto inferior esquerdo): Inflação baixa (-2%) e PIB em queda (-2%), com o S&P 500 em declínio e taxas de juros caindo.
Goldilocks (canto inferior direito): Inflação baixa (-2%) e PIB em crescimento (+2%), com o S&P 500 subindo e taxas de juros estáveis.
Segundo a Apollo, o cenário atual é o primeiro, justamente o mais temido, pois não há alívio na inflação e isso barra a queda de juros que seria vital para o retorno dos investimentos, sejam eles na bolsa de valores ou feitos pelas próprias empresas para expansão de seus negócios. É uma luta mais dura de ser vencida.
As tarifas de Trump aumentam os custos de bens importados, o que eleva os preços ao consumidor nos EUA. Ao mesmo tempo, a interrupção das cadeias de suprimentos globais e a potencial retaliação de parceiros comerciais (como a China e a União Europeia) podem levar a uma desaceleração econômica, reduzindo o PIB sem no entanto fazer com que os preços dos bens caiam. Isso é particularmente preocupante porque, como mencionado anteriormente, 41% das receitas das empresas do S&P 500 vêm de mercados internacionais. Uma recessão global, desencadeada pela redução das exportações americanas, pode amplificar esse efeito e pode levar a demissões em setores dependentes de importações, como transporte rodoviário, tecnologia (hardware) e varejo.

Slide 2: “Porcentagem recorde de consumidores dizem que as condições estão piorando”
Este gráfico mostra a porcentagem de consumidores que esperam condições de negócios piores em um ano, de 1980 até março de 2024. Os dados mostram picos de pessimismo em momentos de crise:
1980-1982: Crise econômica e alta inflação (pico de ~60%).
2008-2009: Crise financeira global, recessão (pico de ~50%).
2020: Pandemia de COVID-19 (pico de ~40%).
2023-2024: Aumento acentuado, atingindo ~60% em março de 2024 e superando todas as pesquisas anteriores.
O aumento recorde no pessimismo dos consumidores (60% em março de 2024) reflete preocupações com os efeitos das tarifas de importação e a guerra comercial que teve início logo depois. O sentimento sugere que os consumidores não confiam que as tarifas trarão benefícios econômicos, temendo, em vez disso, inflação, desemprego e recessão. Isso também pode impactar o S&P 500 e por consequência, os ativos dos quais muita gente depende para se aposentar. O índice vem sofrendo quedas devido à redução da confiança do consumidor e ao impacto nas receitas internacionais das empresas americanas.

Slide 3: “Sentimento dos consumidores piorando em mais de uma classe social”
Este gráfico compara o índice de sentimento do consumidor entre dois grupos de renda, de 1980 a março de 2024. Os dados mostram que o sentimento do consumidor caiu para ambos os grupos, especialmente a partir de 2022:
Picos históricos: Sentimento mais alto (~130) em 1999-2000 e 2017-2019.
Quedas significativas: Durante a crise de 2008-2009 (~60) e a pandemia de 2020 (~70).
2025: Ambos os grupos caem para ~50, com uma convergência entre os índices, indicando que o pessimismo é generalizado, independentemente da renda. O número também é o mais baixo do gráfico, o que bate com a informação do Slide 2.
A queda no sentimento do consumidor para ambos os grupos de renda reflete o impacto das tarifas na economia. Para famílias de baixa renda (abaixo de US$ 100.000/ano), o aumento dos preços de bens essenciais (devido às tarifas) reduz o poder de compra, agravando a pressão financeira. Para famílias de alta renda (acima de US$ 100.000/ano), a incerteza econômica global, a volatilidade nos mercados financeiros e a ameaça de recessão (como apontado no Slide 1) também afetam a confiança. O isolacionismo de Trump ao impor tarifas amplas e iniciar uma guerra comercial com antigos aliados E adversários, também não discrimina entre grupos de renda, afetando a todos. A convergência dos índices de sentimento sugere que tanto os mais ricos quanto os mais pobres estão igualmente preocupados com o futuro econômico. Isso pode levar a uma redução no consumo, um pilar crucial da economia americana (que representa cerca de 70% do PIB dos EUA), acelerando o risco de recessão. Não há público consumidor que não esteja com o pé no freio diante do cenário incerto.

Slide 4: “Reversão drástica nos planos de investimento das corporações”
Agora vemos os planos de investimento em capital (capex) de empresas americanas, de 2016 a 2025, com base em várias fontes. Os dados mostram uma reversão acentuada nos planos de capex:
2016-2019: Planos de capex positivos, com variação entre 75 e 140 (escala da direita).
2020: Queda acentuada durante a pandemia, para valores de até 25 pontos.
2021-2022: Recuperação, com índices voltando a subir aos níveis de 2017.
2023-2025: Nova queda, com índices caindo de volta ao centro da escala em 2025, indicando uma contração significativa nos investimentos corporativos. Todas as linhas estão apontadas para baixo.
As empresas, enfrentando custos mais altos devido às tarifas e interrupções nas cadeias de suprimentos, estão reduzindo investimentos em expansão. Além disso, a ameaça de retaliação comercial e uma recessão global (como apontado no Slide 1) desincentiva gastos de capital, já que as empresas priorizam a preservação de caixa em tempos de incerteza. A política “America First”, ao criar barreiras comerciais, aumenta os riscos para empresas que dependem de mercados globais. A redução no capex pode levar a uma desaceleração na inovação, na criação de empregos e no crescimento econômico, aprofundando o risco de recessão nos EUA.

Slide 5: “A Recessão Voluntária do Reset no Comércio (Internacional)”
O último slide que selecionei foi esta linha do tempo projetada dos impactos da guerra comercial iniciada em 2 de abril de 2025:
2 de abril: Tarifas entram em vigor, afetando contêineres da China para os EUA, com trânsito desacelerando rapidamente.
20-40 dias (início de maio): Contêineres param de chegar aos portos dos EUA.
Início/meados de maio: 1-10 dias de transporte por caminhão/ferrovia para cidades dos EUA.
Meados/fim de maio: Demanda por caminhões para, levando a prateleiras vazias e empresas respondendo à menor oferta.
Fim de maio/início de junho: Demissões no setor de varejo e logística.
Verão de 2025: Recessão econômica nos EUA.
Minha opinião
É uma previsão bastante pesada essa da Apollo, mas que poderá ser facilmente verificada por todos nós, já que a linha de tempo termina no verão do Hemisfério Norte (fim de junho a meados de agosto). A política isolacionista, ao impor tarifas amplas, cria um “reset comercial”, como descrito no slide. O mundo inteiro segura a respiração até entender qual vai ser a regra do novo jogo. Isso não apenas interrompe as importações, mas também cria uma cascata de problemas pra quem depende da logística pra trabalhar. A recessão projetada para o verão de 2025 é um resultado direto dessa interrupção, agravada pela interconexão da economia americana com o resto do mundo.
Os cinco slides da Apollo Global Management pintam um quadro preocupante sobre os efeitos das tarifas de Trump e sua política comercial externa, com risco de estagflação, pessimismo recorde dos consumidores independente de sua classe social, contração nos investimentos corporativos e uma quebra nas cadeias de suprimentos semelhante à que aconteceu em 2020, mas agora trocando o lockdown por decisões da Casa Branca.
Eu diria que tudo o que vai acontecer adiante depende de anúncios (ou a falta deles) de acordos bilaterais entre os EUA e seus principais parceiros (dá pra chamar disso ainda?) comerciais. Se muitos países entrarem na fila e conseguirem negociar, deixando a China isolada, essa também terá de vir para a mesa e um clima de maior confiança vai voltar ao mercado financeiro, aos consumidores e às empresas. Claro, alguns eventos já podem ser considerados inevitáveis, ainda que haja essa reversão. Torço por este melhor cenário, de danos moderados e recuperação no longo prazo.
Terceiro Estudo: Ray Dalio e a Nova Ordem Mundial
Ray Dalio, em seu livro “Principles for Dealing with the Changing World Order”, define uma “crise histórica” como um evento que combina declínio econômico severo, desordem social interna, perda de competitividade global e desafios à hegemonia do dólar como moeda de reserva. O mega-investior tem aparecido muito na mídia especializada em investimentos para dizer que os sinais das últimas notícias e dados econômicos confirmam a sua teoria e amplificam a sua mensagem de alerta aos governantes dos Estados Unidos. Juntando o livro às aparições recentes, quais os sinais que ainda podemos ter que confirmem de vez a chegada de uma Nova Ordem (e toda a bagunça que acontece durante a transição)? E quais deles já estão aqui?

Declínio Econômico Severo
Queda Prolongada e Profunda do PIB:
Confirmação: Uma recessão severa com uma queda do PIB de 5% ou mais, sustentada por mais de dois trimestres (ou seja, até 2026). Isso seria comparável à Grande Depressão (queda de 26% entre 1929-1933) ou à crise de 2008-2009 (queda de 4,3%). Um declínio dessa magnitude indicaria uma falha estrutural na economia americana, não apenas uma desaceleração cíclica.
Sinais Atuais: A recessão projetada para o verão de 2025 pelos principais estudos é moderada, mas pode se agravar se as tarifas persistirem, retaliações comerciais se intensificarem e o consumo colapsar devido ao pessimismo recorde do consumidor como mostrado pela Apollo.
Desemprego em Níveis Críticos
Confirmação: Taxa de desemprego subindo para 10% ou mais, com demissões massivas em múltiplos setores (varejo, logística, manufatura) e falências generalizadas de pequenas e médias empresas. Falha do FED em reverter a situação.
Sinais Atuais: Ainda não há dados indicando um colapso generalizado. Em 2020, durante a pandemia, o desemprego atingiu 14,8%, mas caiu rapidamente com estímulos. Um aumento para 10% ou mais em 2025-2026 seria um sinal alarmante, mas o FED agiria rápido, como em 2020.
Inflação Descontrolada ou Deflação Severa
Confirmação: Inflação subindo para níveis de hiperinflação (acima de 10%) ou uma deflação severa (queda de preços de -5% ou mais), indicando colapso da demanda. Ambos os cenários seriam devastadores: hiperinflação destruiria o poder de compra, enquanto deflação levaria a uma espiral de falências.
Sinais Atuais: O Slide 1 da Apollo projeta um cenário de stagflation, com inflação em +2% acima da média (cerca de 5-6% em 2025, conforme análise anterior). Isso é preocupante, mas não chega nem perto de uma hiperinflação. Uma deflação severa é menos provável no curto prazo, dado o supply shock que eleva os preços. O governo Trump tem se destacado pela austeridade e pelo combate ao gasto público desnecessário. Esse fator, de onde eu vejo, é suficiente para conter uma maxidesvalorização do dólar.
Crise no Dólar e na Posição de Moeda de Reserva
Desdolarização Acelerada:
Confirmação: Países começarem a abandonar o dólar em transações internacionais em larga escala, com moedas como o yuan ou o euro ganhando participação significativa. Por exemplo, uma queda na participação do dólar nas reservas globais de 59% (nível de 2023, segundo o FMI) para menos de 50% em poucos anos, acompanhada por acordos comerciais bilaterais que excluem o dólar.
Sinais Atuais: Em 2023, a China já começou a negociar petróleo com a Arábia Saudita e gás natural com a Rússia em yuan, e países como Brasil e Índia estão explorando acordos em moedas locais. No entanto, o dólar ainda é dominante, e a desdolarização é um processo lento.
Perda de Confiança no Dólar:
Confirmação: Queda acentuada no valor do dólar (índice DXY caindo 20% ou mais em um ano), com investidores globais vendendo títulos do Tesouro americano em massa e aumento dos yields (por exemplo, yields de 10 anos subindo para 7-8% ou mais). A China, caso venha a jogar no mercado todos os treasuries americanos que possui, fará uma enorme baderna na vida do dólar e criaria uma crise inédita: a falta de compradores dos bonds “mais confiáveis do mundo”.
Sinais Atuais: O aumento projetado dos juros do Fed (6-7% em 2025) pode inicialmente fortalecer o dólar, atraindo investidores em busca de rendimento. No entanto, uma recessão severa e déficits fiscais crescentes (dívida pública em 123% do PIB) podem minar a confiança no dólar a médio prazo, especialmente se outros países perceberem os EUA como menos confiáveis devido ao isolacionismo. Este é um ponto fraco bastante nítido e exposto, que confirma as previsões do Ray Dalio.
Perda de Liderança Global
Declínio da Influência Geopolítica:
Confirmação: Aliados tradicionais (como a União Europeia, Japão e Coreia do Sul) começarem a se alinhar mais com a China ou outros blocos, rejeitando a liderança americana. Isso poderia ser evidenciado por acordos comerciais que excluam os EUA (por exemplo, uma expansão do RCEP sem participação americana) ou pela perda de apoio em organizações internacionais (como a ONU). O pior cenário seria a extinção da OTAN, ou uma versão dela que não inclua os EUA.
Sinais Atuais: As tarifas e o isolacionismo já estão tensionando relações com aliados. Em 2018, a UE e o Canadá retaliaram as tarifas de Trump com medidas próprias, e em 2025, uma guerra comercial ampla pode levar esses países a buscar alternativas, como o fortalecimento de laços com a China. No entanto, a liderança americana ainda é sustentada por sua força militar, tecnológica e pelo dólar. Os europeus e outros aliados militares dos EUA, ao que me parece, não seriam loucos de deixar de lado o amigo mais forte numa briga com Rússia, China ou Irã.
Ascensão de Concorrentes:
Confirmação: A China consolidando sua posição como líder global, com avanços significativos em tecnologia (por exemplo, dominando 5G e IA), finanças (yuan como moeda de reserva alternativa) e influência diplomática (expansão da Iniciativa Cinturão e Rota).
Sinais Atuais: A China já está avançando em tecnologia e diplomacia, mas ainda enfrenta desafios internos (envelhecimento populacional, desaceleração econômica). As tarifas de Trump podem acelerar a ascensão da China ao forçar países a buscar alternativas aos EUA, mas isso não é iminente em 2025-2026, especialmente se os acordos bilaterais de comércio funcionarem.
Desordem Social Interna
Polarização e Conflitos Sociais:
Confirmação: Aumento significativo de protestos, greves e violência política nos EUA, com polarização extrema levando a uma crise de governabilidade. Isso seria exacerbado por desigualdade crescente, com a recessão afetando desproporcionalmente os mais pobres.
Sinais Atuais: A polarização nos EUA já é alta, com tensões entre republicanos e democratas intensificadas desde 2020. Uma recessão severa em 2025, com demissões e inflação alta, pode aumentar a insatisfação social, especialmente se os democratas ganharem força nas midterms de 2026 e obstruírem a agenda de Trump.
Argumentos de Dalio
Ray Dalio argumenta que os EUA estão em declínio relativo e que estamos vivendo uma “mudança de Era”, onde a hegemonia americana será desafiada pela ascensão da China. Ele descreve um ciclo histórico de aproximadamente 250 anos em que grandes potências declinam devido a dívidas insustentáveis, desigualdade interna, perda de competitividade e conflitos externos. Ele vê os EUA em um estágio avançado desse ciclo, com dívida pública elevada (123% do PIB em 2024), desigualdade crescente (a camada de 1% mais rica detém 32% da riqueza), polarização política e social extrema e o declínio relativo em educação e inovação (os EUA caíram no ranking PISA de educação e enfrentam competição séria em tecnologia e armamentos).
Dalio aponta que a China está em ascensão, com crescimento econômico, avanços tecnológicos (como em IA, caças de 6ª geração e telefonia 5G) e maior influência global (Iniciativa “Belt and Road”, um mega-projeto de infra-estrutura comercial e logística). Ele prevê que o yuan pode desafiar o dólar a longo prazo e sugere que crises econômicas (como a projetada para 2025) podem acelerar esse declínio, especialmente se combinadas com políticas isolacionistas que alienam aliados e enfraquecem a economia americana. Ray está profundamente investido em China e isso certamente cria um viés na sua análise, pela busca de confirmações de tese, uma armadilha em que o ser humano insiste em cair.
MInha opinião
Pontos de concordância
Declínio Relativo dos EUA: Os dados dos slides da Apollo apoiam a visão de Dalio de que os EUA enfrentam desafios estruturais. O pessimismo recorde do consumidor, a contração de capex e a recessão projetada indicam vulnerabilidades econômicas. A dívida pública elevada e a desigualdade social são problemas reais que minam a estabilidade a longo prazo.
Impacto das Tarifas e do Isolacionismo: As tarifas e discursos disruptivos questionando o valor de antigos aliados pode acelerar a perda de influência global, como Dalio prevê. A interrupção das cadeias de suprimentos e a potencial retaliação comercial podem levar aliados a buscar alternativas, enfraquecendo a liderança americana.
Ascensão da China: A China está, de fato, ganhando terreno. Em 2023, o PIB da China em paridade de poder de compra já ultrapassou o dos EUA (US$ 27 trilhões contra US$ 23 trilhões, segundo o FMI), e sua influência via “Belt and Road” cresceu (mais de 140 países participam). As tarifas de Trump podem acelerar a desdolarização, como visto em acordos sino-sauditas em yuan. Mas… (e dizem que nada vale antes do “mas…”) a China vai entrar em declínio logo ali na frente. Vamos falar mais disso adiante.
Pontos de Discordância:
Magnitude da Crise Atual: Embora a recessão projetada para 2025 seja séria (-2% do PIB, inflação de 5-6%), ela não atinge os níveis de uma crise “monstruosa” que Dalio descreve como catalisador de uma mudança de Era. Comparada à Grande Depressão ou mesmo à crise de 2008, a recessão atual é moderada, e os EUA têm ferramentas para mitigá-la (estímulos fiscais, ajustes de política comercial). A economia americana ainda é resiliente, com o PIB nominal de US$ 27 trilhões em 2024 (o maior do mundo) e liderança em tecnologia (empresas como Apple, Microsoft e Nvidia ainda dominam seus nichos de mercado).
Velocidade da Desdolarização: O dólar permanece a moeda de reserva dominante (59% das reservas globais, segundo o FMI), e a desdolarização é um processo lento. O yuan enfrenta barreiras significativas (falta de convertibilidade total, controles de capital na China), e o euro não é uma alternativa viável devido à fragmentação da UE. Mesmo com as tarifas, é improvável que o dólar perca seu status em alguns anos.
EUA x China: Apesar do isolacionismo, os EUA mantêm vantagens estruturais: a maior força militar do mundo (orçamento de defesa de US$ 886 bilhões em 2023, mais que os 10 países seguintes combinados), alianças sólidas (OTAN, AUKUS) e liderança em inovação (Silicon Valley). A China, embora em ascensão, enfrenta desafios internos (desaceleração econômica, crise imobiliária com a Evergrande) que limitam sua capacidade de substituir os EUA no curto prazo. Isso sem falar na mais grave de todas, a crise demográfica: em 40 anos a China vai perder 50% da sua população devido ao efeito da “One Child Policy” estabelecida por décadas que deixava à morte qualquer segundo filho de cada casal - já que todos os casais dependiam do Estado para sobreviver. Hoje essa política acabou mas não há como ser revertida: os jovens agora não desejam ter os filhos que o governo passou a querer. Cheque-mate, pois ninguém domina o mundo sem gente. A crise atual é um alerta, mas não o fim da hegemonia americana. E se for, não será a China e nem o yuan que vão mandar no mundo.
Limitações da China como Líder Global e do Yuan como Moeda de Reserva
Me permitam expandir um pouco a conversa nesse último ponto, pois ele vai nos levar à minha conclusão radical (pode chamar de maluca mesmo) sobre todo esse tema. Por que eu digo que a China não será o novo Super-Poder global na Nova Era de Ray Dalio?
Falta de uma Solução para a Economia Global:
A China tem se beneficiado do sistema econômico global liderado pelos EUA, mas não oferece uma alternativa clara e universalmente aceitável. O modelo econômico chinês é baseado em um capitalismo de Estado, com forte intervenção governamental, o que contrasta com o modelo de livre mercado que os EUA promoveram (apesar de suas imperfeições). A Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), por exemplo, é vista por muitos países como uma ferramenta de “diplomacia da dívida”, com projetos que beneficiam mais a China do que os parceiros (como o porto de Hambantota no Sri Lanka, que foi arrendado à China após inadimplência).
A China também carece de soft power comparável ao dos EUA. Enquanto os EUA exportam cultura (Hollywood, música, tecnologia) e valores (democracia, liberdade individual), a China enfrenta resistência devido à sua imagem autoritária, censura (como o “Great Firewall”) e violações de direitos humanos (por exemplo, em Xinjiang e Hong Kong).
Yuan Não é Melhor que o Dólar:
O yuan enfrenta barreiras estruturais para substituir o dólar como moeda de reserva global:
Convertibilidade Limitada: O yuan não é totalmente conversível; a China mantém controles de capital para evitar fugas de moeda, o que reduz sua atratividade para investidores globais. Em 2023, apenas 2,3% das reservas globais eram em yuan, contra 59% em dólar, segundo o FMI.
Falta de Transparência: O sistema financeiro chinês é opaco, com intervenção estatal (como no Banco Popular da China), o que mina a confiança de investidores internacionais. Resumindo: eles mentem.
Mercado de Capitais Subdesenvolvido: Os mercados financeiros chineses são menos maduros que os dos EUA. Os títulos do governo chinês (equivalentes aos treasuries americanos) não são amplamente aceitos como ativo seguro global.
Comparado ao dólar, que é sustentado por um mercado financeiro profundo, um sistema jurídico confiável e a hegemonia militar dos EUA, o yuan é uma alternativa fraca. Mesmo se o desejo do mundo fosse de abandonar o dólar, a resposta não seria qualquer moeda fiat hoje existente, muito menos a chinesa.
Política Autoritária e Violenta:
O regime autoritário da China, sob o Partido Comunista Chinês (PCC), é um obstáculo significativo para sua aceitação como líder global. A repressão em Hong Kong (2019-2020), a vigilância em massa (sistema de crédito social) e as tensões em Taiwan afastam países que valorizam a democracia e os direitos humanos. Países como a Índia, Japão e a Austrália, que fazem parte do Quad, já estão se alinhando contra a China, em parte devido a essas preocupações. A China pode subornar, pressionar e corromper países e governantes, mas não vai fazer isso com todos, e nem para sempre.
A violência e a falta de transparência (como na resposta inicial à pandemia de COVID-19) também minam a credibilidade da China como líder global. Muitos países preferem a previsibilidade (mesmo que imperfeita) dos EUA a um modelo autoritário e visivelmente mentiroso.
Declínio Populacional e Desafios Econômicos Internos:
A China enfrenta uma crise demográfica severa. Em 2023, sua população caiu pela primeira vez em seis décadas (de 1,41 bilhão para 1,40 bilhão, segundo o National Bureau of Statistics da China), e a taxa de natalidade é de apenas 1,1 filho por mulher, bem abaixo da taxa de reposição (2,1). Projeções da ONU indicam que a população chinesa pode cair para 800 milhões até 2100.
Esse declínio populacional levará a uma força de trabalho encolhendo e a um aumento da proporção de idosos (o “envelhecimento antes de enriquecer”). Em 2050, a China terá 400 milhões de pessoas acima de 65 anos, pressionando os sistemas de saúde e previdência.
Economicamente, a terra do Xi já enfrenta desafios: crescimento desacelerado (4,5% em 2023, contra 8% na década de 2010), crise imobiliária (colapso da Evergrande, com dívidas de US$ 300 bilhões), e alta dívida pública e privada (300% do PIB, segundo o Institute of International Finance). Esses problemas limitam a capacidade da China de sustentar seu crescimento e projetar poder global.
E quem seria o Novo Líder Mundial? Pensando fora da caixa…
Vou dizer logo: o Novo Líder Mundial, quando houver essa troca, acredito que vá ser o Bitcoin, associado a um novo paradigma social, político e econômico, chamado de anarco-capitalismo (podemos chamar de economia descentralizada para usarmos um termo novo e menos chocante, mas eu gosto do antigo 😜).
O anarco-capitalismo é uma filosofia política que defende a eliminação ou redução drástica do Estado em favor de um sistema baseado em mercados livres, propriedade privada e contratos voluntários. No contexto financeiro, o anarco-capitalismo rejeita moedas fiduciárias controladas por governos (como o dólar) e bancos centrais, promovendo moedas descentralizadas como o Bitcoin.
Para avaliarmos se o Bitcoin pode ser o veículo para uma nova Era econômica e geopolítica, precisamos considerar seus pontos fortes, desafios e o contexto global atual. Também já antecipo: o BTC não está pronto para ser a moeda de referência do mundo. Vou fazer um levantamento bem rápido… Quem sabe um dia paro pra escrever um artigo específico sobre isso.

Pontos Fortes do Bitcoin
Descentralização e Resistência à Censura: O Bitcoin não é controlado por nenhum governo ou banco central, o que o torna imune a políticas monetárias inflacionárias (como a impressão de dinheiro durante crises, que dilui o valor de moedas fiduciárias). Isso é atraente em um cenário de desconfiança em governos como o atual.
Adoção Crescente: O Bitcoin tem ganhado aceitação global. Em 2023, mais de 420 milhões de pessoas possuíam criptomoedas (segundo a Crypto.com), e países como El Salvador adotaram o BTC como moeda legal em 2021. Grandes empresas (Tesla, MicroStrategy) também investiram bilhões em Bitcoin, sinalizando confiança institucional.
Hedge Contra Inflação: Com uma oferta fixa de 21 milhões de moedas (a última será minerada por volta de 2140), o Bitcoin é visto como “ouro digital”, uma proteção contra a inflação. Em um cenário de stagflation nos EUA (inflação de 5-6% em 2025, Slide 1), o BTC pode atrair investidores que buscam preservar valor. Tudo converge para o seu crescimento.
Facilitação de Transações Globais: O Bitcoin permite transferências internacionais rápidas e baratas, sem depender de sistemas como o SWIFT, que é dominado pelos EUA (e foi usado como arma depois da invasão russa à Ucrânia). Isso pode ser atraente para países que buscam escapar das sanções, como Irã ou Rússia, mas também para nações com relação menos alinhadas com os EUA, como França e Índia. Quem teme sair do SWIFT um dia precisa de uma alternativa viável e segura.
Desafios para o Bitcoin
Volatilidade: O preço do Bitcoin ainda é extremamente volátil. Em 2021, o BTC atingiu US$ 69.000, caiu para US$ 16.000 em 2022, e está hoje beirando os 95 mil dólares. Essa volatilidade o torna inadequado como moeda de troca diária ou reserva de valor estável, o que limita sua adoção em larga escala. Isso só vai mudar depois que o mundo todo entender, comprar e usar a moeda.
Escalabilidade: A rede Bitcoin processa apenas 7 transações por segundo (TPS), contra 1.700 TPS da Visa. Isso torna o BTC complicado para transações do dia a dia em escala global. Soluções como a Lightning Network (que aumenta a escalabilidade) ainda estão em desenvolvimento e enfrentam barreiras técnicas. De novo, isso vai mudar, mas não da noite para o dia.
Regulação e Resistência Estatal: Governos veem o Bitcoin como uma ameaça ao controle monetário. Comprar guerra com as entidades e passoas mais poderosas do mundo não é brincadeira. Mas onde o BTC foi barrado e proibido, ele prosperou e cresceu. E há governos no mundo todo hoje discutindo sobre a possibilidade de ter reservas estratégicas em BTC. Os ventos estão mudando…
Falta de Aceitação Universal: Apesar do crescimento, o Bitcoin ainda não é amplamente aceito como meio de pagamento. A maioria das transações com BTC é especulativa (investimento), não prática (compra de bens/serviços). Para liderar uma nova Era, o BTC precisaria ser adotado como moeda funcional em larga escala, o que está longe de acontecer.
Desafios Geopolíticos: O Bitcoin não resolve questões de poder político e militar, que são centrais para a liderança global. Mesmo que o BTC se tornasse uma moeda dominante, ele não substituiria o papel de um Estado-nação (ou bloco) em questões como segurança interna e externa, diplomacia e influência cultural.
Concluindo, penso que a blockchain do Bitcoin representa uma forma tão ética, eficiente e transparente de transferência de dados (incluindo votos) que o BTC pode ser não apenas uma revolução monetária mas também política e social, tornando obsoletos os cartórios, as urnas (especialmente as eletrônicas), os parlamentos, as bolsas de valores e os bancos. Em última instância, por ser uma moeda deflacionária, impediria a produção de moeda para financiar guerras, reduzindo a necessidade de gastos com defesa e trazendo uma possibilidade de sucesso para a paz mundial. Por isso eu digo que o BTC representa um potencial de mudança de paradigma para a humanidade. Ele é muito mais que um dinheiro digital e, quanto mais de perto eu olho, mais eu entendo que se existe um dinheiro melhor que o dólar e o ouro, é a moedinha favorita do Michael Saylor. Mas nada disso acontece num piscar de olhos. Serão décadas ainda até que haja viabilidade de infra-estrutura para o BTC e esse mesmo tempo para que a sua superioridade técnica ao dólar seja considerada seriamente pela humanidade. E se ele for o lastro adotado por todos os países para as suas moedas, com os governos entendendo que a Era da Impressora acabou, o BTC pode inclusive sustentar o dólar, fazendo o papel do ouro nesse caso e sendo uma força suave de mudança, ao invés de canhão da revolução. Só o tempo dirá.
Tá, e os meus investimentos, como ficam? (voltando pra Terra)
Bem, eu já escrevi 3 artigos sobre como estou investindo em 2025, sobre mares tempestuosos e sobre o Bear Market (e o que fazer com ele). Estão aqui no blog, convido os amigos à leitura. Mas vou dar uma atualizada na questão sobre como o mercado deve reagir aos diferentes cenários diante de nós hoje para que o investidor possa avaliar o seu portfolio e adequar o que está fazendo sem nunca abrir mão da estratégia primária, dos seus princípios de investimento.
A questão sobre se estamos vivendo um pânico exagerado e se há possibilidade de acordos bilaterais (inclusive com a China) é complexa e exige uma análise que combine geopolítica, economia e os dados de pesquisas com consumidores e empresários. Como eu disse mais pra cima nesse artigo, muita coisa depende dos acordos bilaterais em negociação neste momento. Se derem certo em qualidade e quantidade, podemos até pensar em voltar para a vida normal e considerar tudo isso um pesadelo que passou. Se não… a coisa vai ficar feia e só quem estiver mais defensivo vai sobreviver.
Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump frequentemente usou a retórica de “acordos iminentes” como uma tática de negociação, tanto para pressionar parceiros comerciais quanto para acalmar os mercados. Exemplos incluem as negociações do USMCA (substituto do NAFTA) e a “Fase 1” do acordo comercial com a China em 2020. A insinuação de que “dezenas de países” farão acordos bilaterais nos próximos dias ou semanas segue esse padrão: cria uma narrativa de progresso para mitigar críticas domésticas e externas. A afirmação pode ou não ser verdadeira.
A China tem historicamente resistido a pressões públicas de negociação, especialmente sob o governo de Xi Jinping, que prioriza a soberania econômica e a autossuficiência (como visto no plano “Made in China 2025”). As negativas de Pequim são consistentes com sua postura de evitar parecer que cede a ameaças, como as tarifas de Trump.
A relação sino-americana está mais tensa em 2025 do que em 2020, devido a questões como tecnologia (restrições a semicondutores), Taiwan, e a competição geopolítica no Indo-Pacífico. Xi Jinping pode optar por uma postura de resistência pública para manter sua imagem de liderança forte, mas não descarto negociações privadas se as tarifas começarem a impactar severamente a economia chinesa (por exemplo, exportações chinesas para os EUA caíram 13% em 2019 devido às tarifas de Trump, segundo o Peterson Institute for International Economics). Durante o primeiro mandato do presidente laranja, a China inicialmente negou concessões, mas acabou assinando o acordo da “Fase 1” em janeiro de 2020, que incluiu compromissos de compra de bens americanos (embora não tenha sido totalmente cumprido). Um acordo com a China, se ocorrer, provavelmente será parcial e focado em concessões específicas (como compras agrícolas ou redução de tarifas mútuas), mas não resolverá as tensões estruturais - acho que nem é esse o propósito, pois a América acordou para o fato de os chineses serem inimigos silenciosos a serem combatidos de forma não-militar, se possível.
Nações menores ou mais dependentes dos EUA, como Canadá, México, ou alguns países da Europa e da Ásia (por exemplo, Coreia do Sul e Japão) podem buscar acordos para evitar ou reduzir tarifas, especialmente se enfrentarem pressões econômicas domésticas. O USMCA, assinado em 2018, é um precedente: Canadá e México cederam a algumas demandas de Trump para manter o acesso ao mercado americano. Mas elas seriam suficientes para mudar o quadro atual para muito melhor. Um G20 alinhado aos EUA isolaria a China e traria o mundo para uma nova globalização em vez de nenhuma.
Acordos bilaterais com países menores podem reduzir o impacto das tarifas em setores específicos, como agricultura e manufatura, aliviando parcialmente o supply shock projetado pela Apollo. Um acordo com a China, mesmo que limitado, poderia restaurar parte do fluxo comercial, reduzindo a inflação nos EUA e o risco de stagflation. Isso também poderia melhorar a confiança do consumidor e incentivar o investimento corporativo, mitigando a recessão projetada para o verão de 2025. Porém, se os acordos não acontecerem, a guerra comercial se intensifica e os efeitos descritos nesse artigo se materializam plenamente: supply shock severo, inflação alta, recessão, quedas no mercado de ações e grande dúvida sobre o destino dos bonds americanos. A ausência de um acordo com a China, em particular, seria devastadora, já que a China é o maior fornecedor de bens manufaturados para os EUA (em 2023, os EUA importaram US$ 427 bilhões da China, segundo o U.S. Census Bureau).
Em crises passadas (1980-1982, 2008-2009, 2020), os mercados de ações sofreram quedas significativas (27%, 57%, e 34%, respectivamente). A projeção de uma queda de 20-30% no S&P 500 em 2025 está alinhada com esses precedentes. Setores cíclicos (varejo, tecnologia, manufatura) foram os mais afetados em todas as crises, enquanto setores defensivos (saúde, energia, bens de consumo essenciais) mostraram maior resiliência.
Se estivermos diante de uma crise dessas, dado o risco elevado de recessão e stagflation, uma postura defensiva é prudente, especialmente no curto prazo (até o fim de 2025). Aqui estão algumas táticas de trade macro que eu realizei do fim do ano passado pra cá (exemplos pessoais, não são recomendações!):
Reduzi a Exposição a Setores Cíclicos:
Varejo e Logística: Empresas como Walmart, Target, FedEx e UPS enfrentam riscos elevados devido ao supply shock e demissões. Vendi Fedex, mas estou de olho na UPS: a virada dela pra cima pode ser um indicador interessante de fundo no mercado. Quero comprar cedo.
Tecnologia de Alto Crescimento: Empresas de hardware Nvidia e Apple, que dependem de cadeias de suprimentos globais, podem sofrer com o supply shock e valuations pressionados por juros altos. Prefiro empresas de software (como Microsoft e Salesforce), que são menos afetadas por importações. Tenho comprado dessas últimas.
Sai Indústria, entra Pizza: nomes como Caterpillar e Boeing, dependentes de exportações, podem ser impactados por retaliações comerciais. Boeing já estava na lata do lixo antes, mas vocês entendem o que eu digo. Empresas que exploram o consumo doméstico, por sua vez podem ser mais interessantes, como restaurantes (estou de olho em Darden Restaurants, Texas Roadhouse e Domino’s Pizza).
Aumentei Exposição a Setores Defensivos:
Saúde: Empresas como Johnson & Johnson têm fluxos de receita estáveis e são menos afetadas por recessões. Espera-se uma queda de apenas 5-10% em 2025, com recuperação rápida. Hims & Hers também é uma empresa que me chama a atenção nesse momento.
Bens de Consumo Essenciais: Empresas como Procter & Gamble e Coca-Cola oferecem estabilidade, já que a demanda por produtos essenciais (alimentos, higiene) permanece constante. Comprei CostCo e publiquei aqui no blog um artigo sobre ela.
Energia: Empresas como ExxonMobil podem se beneficiar de preços mais altos do petróleo (devido a tensões geopolíticas e inflação), com quedas limitadas a 5-10%. Não comprei ainda, estou esperando o petróleo beirar os 40 dólares/barril.
Diversifiquei com Ativos de Baixo Risco:
Títulos do Tesouro Americano: Com o aumento dos juros do Fed (6-7% em 2025), os treasuries de curto prazo (0-2 anos) oferecem rendimento atrativo e seguro. Títulos longos não!
Ouro e prata: Em um cenário de stagflation, o ouro é um hedge clássico contra inflação e incerteza. Pode valorizar 10-15% em 2025. Eu escolhi um ETF de prata para uma posição grande. O ouro eu já vendi, depois do tanto que subiu, mas ele cumpriu bem o seu papel.
Pagadores de dividendos: Manter uma posição em renda passiva permite flexibilidade para aproveitar oportunidades durante a queda do mercado. Reinvestir dividendos ou aplica-los em negócios de ocasião tem sido práticas em bons e maus tempos na minha carteira.
Horizonte de Longo Prazo (2026-2027):
Se a recessão se confirmar em 2025, o mercado pode atingir um fundo no final do ano, criando oportunidades de compra em setores cíclicos a valuations atrativos. Por exemplo, o S&P 500 a ~3500-4000 pontos pode ser um ponto de entrada pra quem gosta de ETFs de índice.
Empresas que ajustarem suas cadeias de suprimentos (por exemplo, relocalizando produção para o México) podem emergir mais fortes, especialmente em tecnologia e manufatura. É bom acompanhar o noticiário econômico e de negócios.
Qualidade sempre! Compro empresas que resistem a crises, possuem fluxo de caixa crescente, não cortam dividendos e não precisam de grandes investimentos para viver. Seja um supermercado, restaurante ou maquininha de cartão de crédito, é bom ser sócio de empresas indispensáveis para as pessoas em todos os momentos. Assim está montada minha carteira e nada entra nela se não aumentar a qualidade média dos meus ativos. Tenho ativos que, quando caem, minha vontade sempre é de comprar mais e não de sair correndo. Isso é ter paz! 🙏
Warren Buffett, monge budista
Conclusão
O ponto mais importante de toda essa discussão é que o mundo já viveu guerras mundiais, pandemias, crises do petróleo e invernos vulcânicos, mas sempre se recuperou. Pessoas precisam de bens e serviços, bens e serviços precisam de insumos, vivemos em um mundo interdependente por natureza e precisamos nos relacionar nem que seja pela fome e miséria. Quem fornece os bens e serviços emprega, inova, compete e investe, girando a roda da economia. Não importa o que venha pela frente, vamos sair dessa. Lembre sempre disso e busque qualidade acima de tudo - as melhores empresas prosperam. Faça boas escolhas, tenha uma estratégia que engloba o que fazer nas crises e não pire, respire!
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